Se tem uma coisa que brasileiro sabe fazer é transformar até semifinal truncada em espetáculo popular. Porque aqui o futebol não é só esporte, é identidade. É no grito da torcida que se esquece o frio, é no deboche com os colegas, é na arquibancada se une, é na resenha pós-jogo que todo mundo vira comentarista.
E assim foi no último fim de semana, dias 16 e 17 de agosto, quando a Caravana dos Jogos da Cidade levou emoção para a Arena Brasília e para o C.D.C Cantareira. Duas tardes de bola rolando, com semifinal de arrepiar e fase de grupos no embalo de várzea raiz.
No sábado, a Arena Brasília foi onde teve aquela tensão digna de novela mexicana: expulsões, goleiros pegando tudo e decisão nos pênaltis. No domingo, o C.D.C Cantareira recebeu aquele futebol de quebrada, com jogadas ensaiadas, gols de cabeça e a torcida se sentindo parte do espetáculo.
Porque se no campo o espaço é grande, na várzea ele é infinito: cabe o suor, o drama, a troca de passe e até a ironia. Afinal, a gente sempre dá um jeito de rir, mesmo quando o jogo é duro.
Esse fim de semana estava frio, como tem sido costume em São Paulo, mas, o clima gelado não espantou a vontade de jogar. Pelo contrário: aqueceu a rivalidade e fez cada atleta entrar em campo disposto a dar o sangue. Separa um banquinho, senta e ajusta o brilho do celular que lá vem resenha.
União Nova Geração x Brasília FC – Arena Brasília, 16/08

O sábado começou daquele jeitão lá na Arena Brasília, o campo de batalha onde aconteceram as semifinais. O União Nova Geração entrou focado, mostrando desde o apito inicial que não estava para brincadeira. O time valorizou a posse de bola, pressionou a saída adversária e abriu o placar ainda no primeiro tempo, levantando a arquibancada.
Mas o Brasília F.C não se entregou. Mesmo em desvantagem, respondeu com chutes de fora da área e jogadas de velocidade pelas pontas. Teve pelo menos duas chances claras de empatar, mas parou nas mãos do goleiro do União, que fez defesas seguras.
Na volta do intervalo, o União voltou ainda mais organizado. Ampliou o marcador em uma jogada ensaiada: cobrança de escanteio curta, cruzamento na medida e cabeçada certeira para o fundo da rede.
O Brasília tentou reagir, adiantou a marcação, mas esbarrou na defesa sólida. Final de jogo: União Nova Geração 2 x 0 Brasília FC. Festa da torcida do União, que fez o baile ali mesmo na saída do estádio e comemorou a vaga na decisão.
Guarani Horizonte Azul x Astrocity B – Arena Brasília, 16/08

Ainda no mesmo sábado, a semifinal mudou de cenário, mas manteve o clima de decisão. O CDC Cantareira recebeu um duelo cheio de rivalidade e expectativa. De um lado, o Guarani Horizonte Azul, time que joga junto há quatro anos e traz entrosamento como marca registrada. Do outro, o Astrocity B, jovem, veloz e disposto a surpreender.
Logo nos minutos iniciais, o Guarani mostrou por que é considerado um dos favoritos. Ivan, o camisa 9, aproveitou um vacilo da zaga adversária, invadiu a área e finalizou cruzado, abrindo o placar. A vantagem deu confiança, e o Guarani passou a ditar o ritmo, trabalhando passes curtos e envolvendo o rival.
No segundo tempo, Ivan apareceu de novo. Após rebote do goleiro, ele não perdoou e ampliou: 2 a 0. Mas o Astrocity não se deu por vencido e lutou até o fim. Partiu para cima, ganhou corpo no ataque e quase diminuiu em uma finalização de fora da área que explodiu na trave. Teve ainda uma defesa espetacular do goleiro do Guarani, evitando o que seria o gol do empate no lance seguinte.
Com o apito final, a torcida do Guarani explodiu em festa. O time garantiu sua vaga na grande decisão e saiu de campo ovacionado. Do lado do Astrocity, ficou a tristeza da eliminação, mas também o reconhecimento pelo espírito de luta e pela campanha que deu trabalho a um dos gigantes da região.
Se a história já parecia emocionante até aqui, ela fica ainda mais saborosa quando lembramos que essa é exatamente a mesma final da edição de 2024.
Naquele ano, o Guarani Horizonte Azul levantou o troféu e saiu consagrado campeão, deixando o União Nova Geração apenas com o gosto amargo da derrota. Agora, um ano depois, o destino marca um reencontro carregado de simbolismo: de um lado, o Guarani em busca do bicampeonato; do outro, o União sonhando com a revanche que pode mudar o roteiro.
A cidade já respira expectativa, os atletas já sentem o frio na barriga e a torcida promete transformar o estádio em um caldeirão. Resta saber: será repetição da história ou um novo capítulo escrito com tinta de superação?
Mulekes da Praça x Real Muti F.C.- C.D.C Cantareira – 17/08

A rodada começou com um episódio diferente dentro da fase de grupos. O time do Mulekes da Praça não conseguiu reunir jogadores suficientes para entrar em campo, e acabou perdendo a partida por W.O. para o Real Muti F.C.
Para quem não está familiarizado, o W.O. (walkover) acontece quando uma equipe não comparece ou não tem o número mínimo de atletas para iniciar a partida. E aqui vai um ponto importante: não é vergonha nenhuma passar por isso.
A gente não sabe se foi por imprevistos, problemas de transporte ou qualquer outra situação que fugiu do controle. Faz parte do futebol, e o importante é valorizar o esforço das equipes que seguem firmes no torneio.
Cinga F.C. x Só Fumaça- C.D.C Cantareira – 17/08

Se no primeiro jogo não tivemos bola rolando, no segundo a rede balançou de todas as formas possíveis. O Cinga F.C. atropelou o Só Fumaça em uma atuação de gala, com direito a golaços, hat-trick e até um placar histórico: 7×1.
Logo aos 3 minutos, Lucas Cauãn abriu o placar com um canhotaço no ângulo. Aos 8, Vitinho arriscou do meio de campo, a bola explodiu nas mãos do goleiro e entrou. O mesmo Vitinho marcou de novo aos 15 e aos 18, fechando seu hat-trick ainda no primeiro tempo.
Aos 19, Maycon Rogério deixou o dele em jogada coletiva, e aos 23 o zagueiro Gabriel subiu mais alto para fazer o sexto. No segundo tempo, Leandro diminuiu para o Só Fumaça aos 8 minutos, mas logo no lance seguinte Ruan respondeu com mais um gol, decretando o 7 a 1.
Aquele resultado que fez a galera lembrar do famoso placar da Copa de 2014, só que dessa vez com sorriso no rosto do torcedor do Cinga. Destaques absolutos da partida: Thiago maestro do meio de campo, e Vitinho, artilheiro implacável que guardou três vezes.
Duas rodadas, duas histórias diferentes, mas com a mesma essência: emoção e surpresa. No sábado, a semifinal mostrou o peso da camisa e a rivalidade em campo, com o Guarani Horizonte Azul garantindo presença na decisão contra o União Nova Geração.
Já no domingo, a fase de grupos trouxe desde o inesperado W.O. até a goleada histórica do CINGA F.C. por 7×1 sobre o Só Fumaça, lembrando até aquele placar inesquecível do Brasil e Alemanha. No fim, ficou a lição: nos Jogos da Cidade, cada fim de semana pode guardar desde o improvável até o épico… e é isso que faz o torneio ser tão especial.