Domingo ganhou ritmo de decisão e São Mateus respirou futebol

Quem passou pelo Mateo Bei no domingo já sentia de longe: o C.D.C São Mateus estava diferente. Era som de apito misturado com pagode, torcida se ajeitando na sombra e aquele cheirinho de campo que entrega: sim, hoje tem decisão. O gramado, no centro do bairro, virou arena de sonho. De um lado, as minas mostrando que futebol feminino é força e estilo; do outro, os caras brigando por vaga e orgulho da quebrada.

E no meio desse cenário, o campo contava suas próprias histórias, deixava marcas, mas, também escrevia vitórias. A cada dividida, São Mateus vibrava como se o mundo coubesse ali, entre os vestiários reformados e o grito de gol que ecoava pela avenida.

E foi nesse clima que o domingo ganhou ritmo de decisão. As arquibancadas improvisadas, os bancos de cimento e até o alambrado pareciam pulsar junto com a bola. Cada chute , cada defesa arrancava um grito. E assim, entre sol, grama sintética e coração, começaram as quartas de final do futebol feminino e as oitavas do masculino, um dia de emoção do primeiro apito ao último pênalti.

⚽ UNISANT’ANNA 2 x 4 KEBRADA F.C. – Quando o talento encontra a coragem

O primeiro jogo do dia já começou como se fosse final. De um lado, o UniSant’Anna apostava no toque de bola rápido e na força física; do outro, o Kebrada carregava o DNA da rua. Jogo leve, ofensivo e sem medo de arriscar. O sol ainda subia em São Mateus quando Giovanna, camisa 7, mostrou porque é chamada de “motor do time”. Driblou, costurou e serviu a companheira num passe milimétrico para abrir o placar.

A resposta veio logo: o UniSant’Anna empatou com raça, na base da insistência e da bola viva dentro da área. O jogo ficou tenso, o clima de decisão tomou conta, e o Kebrada voltou a ficar na frente com um pênalti convertido com frieza. No segundo tempo, o time de Aricanduva ampliou com categoria e parecia dono da partida. Mas o UniSant’Anna não entregou fácil, ainda diminuiu o placar e reacendeu o jogo. Só que o destino já tinha nome: Giovanna, de novo, em jogada de pura inteligência, serviu o quarto gol e carimbou a classificação.

No apito final, 4 a 2. As jogadoras se abraçaram no meio do campo, suadas, exaustas, com o uniforme coberto de barro e orgulho. A quebrada venceu  e com ela, o futebol que joga com o coração.

COROA F.C. 0 (2) x (4) 0 GAROTAS DO PARQUE REGINA – Silêncio, suor e pênaltis 👑




Não teve gol, mas teve alma. O duelo entre Coroa e Parque Regina foi daqueles jogos que se jogam mais com o corpo do que com a bola. Desde o início, o ritmo foi pesado, disputado, tenso. As jogadoras estudavam, marcavam firme, gritavam umas com as outras, e o placar teimava em não mudar.

Aos poucos, o jogo virou uma batalha entre goleiras. Cada defesa arrancava aplausos, cada chute bloqueado valia como meio gol. O Coroa tentava empurrar a bola pra frente, mas o Parque Regina parecia ter sempre um pé salvador, um corte preciso, um desarme na hora certa. E assim, o tempo correu até o apito final: 0 a 0.

Nos pênaltis, o silêncio tomou conta do C.D.C São Mateus. Uma a uma, as batidas foram certeiras. Até que o Parque Regina brilhou, com calma e confiança, convertendo todas e vencendo por 4 a 2. No fim, o Coroa caiu de pé e o Parque Regina saiu ovacionado, com o rosto molhado de suor e a alma lavada pela vitória.

💥 BRASÍLIA F.C. 5 x 0 FALCONETS FF – Cinco gols e uma aula de futebol

O Brasília entrou em campo com um só propósito: deixar sua marca. Desde o primeiro toque, o time mostrou sintonia e entrosamento que lembrava futebol de alto nível. Triangulações curtas, viradas de jogo precisas e uma tranquilidade quase cruel diante do gol.

O placar começou a ser construído cedo e cada gol parecia mais bonito que o anterior. O segundo saiu numa jogada coletiva digna de manual: passe, tabela, infiltração e finalização seca. As Falconets  tentaram reagir, recuaram as linhas, mas o Brasília jogava em outro ritmo daqueles que não se ensina, só se sente.

Quando o apito final soou, o 5 a 0 refletia mais do que números: era a prova de uma equipe madura, que entende o jogo e o joga com prazer. E quem viu, sabe. Foi um daqueles dias em que o futebol feminino mostra tudo o que pode ser: técnico, intenso e lindo de ver.

🧤 REPRESA NOVA 1 (2) x (4) 1 ATLÉTICO JAÇANÃ – A heroína que defendeu o impossível

O duelo entre Represa Nova e Atlético Jaçanã foi o mais dramático do dia. O jogo começou equilibrado, bola dividida, falta forte, e ninguém recuando o pé. O Represa abriu o placar num chute cruzado, mas o Jaçanã reagiu na base da superação e empatou em cobrança de falta perfeita, milimétrica.

Veio o segundo tempo, veio a chuva fina e veio a tensão. Cada ataque parecia o último. Quando o árbitro apitou o fim, o empate por 1 a 1 levou o jogo para os pênaltis e o destino resolveu ser poético. A goleira titular se machucou e quem foi para o gol? Najara Fabiana. Sem luvas. Sem costume. E com a coragem de quem não sabe dizer não.

Nos pênaltis, ela virou muralha. Pegou dois, vibrou como se o C.D.C fosse o Maracanã e classificou o Atlético Jaçanã. Saiu abraçada pela torcida, chorando e rindo ao mesmo tempo. É por histórias assim que o futebol da cidade não morre.

🔥 SÓ PANKADA F.C. 1 (4) x (2) 1 CINGA F.C. – Coração na mão e oitavas do masculino

 

A única partida do dia do futebol masculino lacrou a rodada no CDC Mateus. Quando a bola rolou, parecia que o Cinga levaria fácil. O gol cedo deu confiança, a torcida fez barulho e o time começou a tocar bonito. Mas o Só Pankada tem alma de resistência é o tipo de equipe que não se entrega nem quando o gramado puxa o pé.

A pressão cresceu, a chuva deixou o campo pesado e o empate veio em uma jogada de insistência, com bola viva na pequena área e finalização certeira. O jogo virou guerra tática, cada centímetro disputado como se fosse final de Copa.

Nos pênaltis, o drama. O Cinga começou melhor, mas o Só Pankada mostrou frieza. Um a um, as batidas foram entrando até a última, que explodiu o C.D.C em festa. Classificação garantida, uniforme encharcado e sorriso aberto. Porque, no fim, é isso: o futebol da periferia é feito de barro, mas brilha mais do que ouro.

E assim o domingo terminou…

Enquanto o sol descia e a poeira subia, São Mateus provou de novo que o futebol amador é o maior patrimônio da cidade. Cada grito, cada jogada, cada chute no barro é uma lembrança de que aqui ninguém joga só por troféu. Joga por pertencimento, por quebrada e por história.

No C.D.C São Mateus, o campo é batalha, o povo é espetáculo. E no fim, a sensação é sempre a mesma: pode reformar o vestiário, trocar o gramado, pintar as arquibancadas… mas o coração desse lugar continua batendo no mesmo ritmo de sempre, aquele da bola rolando.

E agora, segura porque as semifinais vem aí. E o bicho vai pegar.